terça-feira, 22 de março de 2011

AUGUSTO STRESSER – UMA VÍTIMA DA GRIPE ESPANHOLA

AUGUSTO STRESSER – UMA VÍTIMA DA GRIPE ESPANHOLA
(por Elaine Novaes Falco)

Curitiba, março de 2011, neste fim de semana começa o outono.
Porém, e inobstante os alardeados avanços da medicina, ainda nos preocupamos a cada mudança de estação, com as doenças sazonais que – pasmem! – nem são tão diferentes assim, daquelas que preocupavam as gerações que nos precederam. A cada verão, o risco de epidemia da “deng”. E desde 2009, a cada novo inverno, Curitiba estremece e retorna aos vidros de álcool gel, tentando precaver da gripe H1N1, que já foi conhecida como “suína”... ou como a conheceu Augusto Stresser: “gripe espanhola”.

Todos aqueles que tem a felicidade de conhecer o trabalho e a obra que Augusto Stresser deixou para a posteridade, pergunta-se: até onde este artista poderia ter chegado, se a morte não o tivesse tolhido tão jovem, com apenas 47 anos.

Stresser foi uma vítima da Gripe Espanhola, a pior pandemia mundial do século XX. Até hoje, não se tem conhecimento da origem geográfica desta pandemia, mas se sabe que começou a ser detectada entre os soldados sobreviventes da Primeira Guerra Mundial, na Europa, e se espalhou por quase toda parte do mundo. O termo “espanhola”, como em geral acontece nestes casos, deriva de uma situção oportuna. A Espanha, que não havia participado da guerra, foi o primeiro país cuja imprensa noticiou amplamente, o fato e a quantidade de pessoas que estavam adoecendo e morrendo desta pandemia surpreendente. Mas a gripe espanhola também foi conhecida como “gripe pneumônica”, “peste pneumônica”, ou simplesmente “pneumônica”, e foi causada por uma virulência frequentemente mortal, de uma estirpe do virus Influenza A, do subtipo H1N1 – o mesmo que ressurgiu em 2009.

A primeira observação da pandemia ocorreu em 11 de março de 1918, nos Estados Unidos da América. Em abril do mesmo ano, registrou-se alarmante número de casos entre soldados das tropas francesas, britânicas e americanas que se encontravam estacionadas em portos de embarque da França. No mês seguinte, em maio, a doença já havia chegado à Grécia, Portugal e Espanho. Em junho, a Dinamarca noticiava um sem número de ocorrências. Em agosto, era a vez dos Países Baixos e Suécia.

Na falta de estatísticas confiáveis, calcula-se que a Gripe Espanhola afetou metade (50%) da população mundial, tendo matado entre 20 a 40 milhões de pessoas. Estima-se, entretanto, que este número possa ser ainda maior, porque não há cômputo do desenvolvimento nos países orientais, como China e Ìndia.
No Brasil, em 24 de setembro de 1918, retornou ao país a Missão Médica enviada para ajudar no esforço de guerra francês. Estas pessoas haviam sido atingidas pela gripe no Porto de Dacar (Senegal), na época uma colônia francesa. Na mesma época, chegou ao país o paquete Demerara, vindo da Europa, também com passageiros portadores da gripe epidêmica.

Em poucos dias, a doença se propagou pelo país. Irrompeu em Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Amazônia. Paraná. Foram registradas em torno de 300 mil mortes relacionadas à gripe suína, entre eles muitos nomes ilustres, inclusive o Presidente da República, Rodrigues Alves, em 1919.

Em Curitiba (vide blog http://historia.abril.com.br/fatos/furia-gripe-espanhola-433549.shtml), a epidemia foi assim noticiada:

“Já morrem 24 pessoas por dia em Coritiba”, dizia uma manchete do dia 14 de outubro. Na mesma data, um anúncio: “Precisa-se de dois cocheiros na Empreza Funerária de P. Falce”. Essas manchetes dos jornais da época reproduzidas no livro O Mez da Grippe (assim mesmo, com essa grafia), de Valêncio Xavier, dão uma idéia do quadro assustador. A reação entre os curitibanos foi de pânico. Por causa disto, as notícias a respeito foram censuradas. O livro mostra a primeira página do jornal Diário da Tarde, em que, de um artigo sobre “A Influenza”, só ficou o título – o resto está em branco. Já o Commercio do Paraná adotou uma atitude diferente; a epidemia seria apenas uma gripe comum. Mas teve de admitir, em 25 de outubro: “A nossa edição de hontem saiu muito aquem da expectativa em conseqüência de terem adoecido operários da secção da composição, obrigando-nos assim ao sacrifício de materia redaccional cuja inserção foi absolutamente impossivel.”

Foi no meio de tanto sofrimento, que nós – curitibanos – choramos pelo falecimento do grande compositor paranaense, Augusto Stresser, uma vítima dentre as inúmeras vítimas desta verdadeira catástrofe da saúde pública mundial. E aqui, diante do computador, eu me pergunto: quantas outras óperas, quantos inúmeros concertos, quanta música de boa qualidade ainda poderia ter sido por ele escrita, se a morte não o tolhesse tão cedo?


SAIBA MAIS

http://historia.abril.com.br/fatos/furia-gripe-espanhola-433549.shtm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Stresser

Livros
Literatura: O Mez da Grippe, Valêncio Xavier, Companhia das Letras, 1981
Gripe: A História da Pandemia de 1918, Gina Kolata, Record
A História e suas Epidemias, Stefan Cunha Ujvari, Senac,

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